HIPOTIREOIDISMO: O QUE PRECISO SABER?

Por Dr. Guilherme Alcantara Cunha Lima

O hipotireoidismo é um distúrbio endócrino muito comum, atingindo cerca de 4% da população. É mais comum no sexo feminino, embora possa também afetar homens de todas as idades, e se caracteriza pela redução da produção dos hormônios tireoideanos (T4 livre e T3 livre), que estão intimamente relacionados ao funcionamento do organismo.

A redução da produção hormonal resulta em mau funcionamento do organismo, podendo afetar diferentes órgãos e sistemas, tais como: pele e fâneros (queda de cabelo e unhas, ressecamento da pele), sistemas cardiovascular (aumento da pressão e do colesterol, redução dos batimentos cardíacos), neuromuscular (câimbras, fadiga, diminuição dos reflexos, cansaço mental, falhas de memória), gastrintestinal (prisão de ventre), uro-genital (irregularidade menstrual), articular (dores articulares), e tecido adiposo (dificuldade em perder peso).

Especial atenção deve ser dada a gestantes, onde o diagnóstico e tratamento adequado resultam em redução do risco de complicações materno-fetais e de aborto; em idosos, onde o hipotireoidismo deve ser considerado como um importante diagnóstico diferencial da depressão; e em recém-nascidos, onde a reposição hormonal precoce é crucial. O quadro clínico é extremamente variável, podendo abranger desde a presença de sintomas graves da doença a quadros completamente assintomáticos, diagnosticados apenas em dosagens laboratoriais.

Diversas são as causas de hipotireoidismo: a principal delas é a Tireoidite de Hashimoto, que resulta de uma resposta autoimune do organismo, acarretando em diminuição própria da produção hormonal tireoideana. Cirurgia prévia da tireoide, medicamentos, irradiação da cabeça e pescoço e casos de origem congênita também são possíveis. O teste do pezinho permite o diagnóstico e tratamento precoce do hipotireoidismo congênito, que deve ser tratado o quanto antes, visando restabelecer um adequado desenvolvimento neuropsicomotor e intelectual do recém-nato.

O diagnóstico do hipotireoidismo se dá pelas dosagens do hormônio regulador da tireoide (TSH) e pelo principal hormônio produzido pela tireoide (T4 livre). A dosagem do anti-TPO, anticorpo produzido pela tireoide, é necessário em alguns casos de suspeita de Tireoidite de Hashimoto. Nas principais causas de hipotireoidismo, o TSH encontra-se acima do valor da normalidade e o T4 livre baixo ou no limite inferior da normalidade. Dosagens de T4 total, T3 total, T3 livre e T3 reverso são em sua grande maioria desnecessárias para o diagnóstico, e podem levar a uma interpretação errônea dos resultados. Atenção especial deve se dar ao valor de normalidade do TSH, que se eleva com a idade e se reduz na gestação. Logo, um mesmo valor de TSH pode ser considerado normal para uma mulher adulta e alto para uma gestante. Da mesma forma, outro valor de TSH pode ser alto para um homem adulto e normal para um idoso.

Uma vez diagnosticado, o tratamento requer a reposição do hormônio tireoideano. Classicamente, a levotiroxina (T4 livre) é utilizada para o tratamento. Existem diferentes marcas no mercado, em diversas dosagens e a um custo acessível, tornando o tratamento possível e confiável. A despeito do uso concomitantede formulações de T3/T4, notórias sociedades de endocrinologia e tireoidologia do Brasil e do mundo se posicionaram recentemente contra esta iniciativa, visto que estudos clínicos demonstraram não haver vantagens ao tratamento convencional (levotiroxina) e ainda aumentar o risco de complicações do tratamento, como risco aumentado de arritmia cardíaca.

A administração da levotiroxina deve ser em jejum, devendo-se aguardar pelo menos 40-60 minutos para a ingestão de alimentos e qualquer outro medicamento. A tomada em conjunto com alimentos ou demais remédios pode resultar em redução da absorção da levotiroxina e necessidade de aumento da sua dosagem. Especial atenção deve ser dada ao uso concomitante de antiácidos, polivitamínicos, sais de ferro e cálcio, pela redução da absorção intestinal da levotiroxina.

O tratamento deve ser contínuo na maioria dos casos, e somente em condições excepcionais, descontinuado, sempre seguindo orientação médica. Devido ao amplo espectro de sintomas possíveis, muitos deles vagos, subjetivos e pouco específicos, o hipotireoidismo faz diagnóstico diferencial com uma diversidade de condições clínicas, tais como: depressão, síndrome da fadiga crônica e doenças crônicas. Desta forma, a necessidade de manutenção ou ajuste de dose deve se dar pelas dosagens seriadas de TSH/T4 livre e não pela presença ou não de sintomas.

O diagnóstico e tratamento do hipotireoidismo, bem como o acompanhamento periódico com dosagens laboratoriais são fundamentais para a obtenção de uma vida saudável e normal pelos indivíduos acometidos.

 

Fonte: saudepress.com

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